Não há representatividade justa em um governo autoritário

O caso Carlos Decotelli é um trágico exemplo de como o racismo organiza o desgoverno Bolsonaro. Pode ainda revelar que pessoas negras, mulheres, indígenas ou LGBTI, ao endossarem o bolsonarismo, sofrerão da mesma lógica de violência e desumanização dispensada por Bolsonaro aos grupos dos quais fazem parte. Não pode haver representatividade democrática e reconhecimento justo desses grupos em um governo de caráter autoritário.

É evidente que as mentiras e imprecisões no currículo do economista são graves e colocaram em xeque suas condições de assumir o Ministério da Educação. Mas o desprezo e a humilhação que foram lançados a Decotelli nesse episódio não foram presenciados contra Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, ou Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que também mentiram sobre títulos acadêmicos que não possuem.

Tudo que o Brasil tomado pelo ranço colonial precisava para se vingar da visibilidade que a luta antirracista ganhou nas últimas semanas era apontar o erro de um homem negro como se fosse um desvio derivado da sua própria negritude. O que vimos nesses últimos dias foi a perversidade do racismo em ação e a atualização do julgamento mais pesado e cruel para os corpos negros.

É um momento profundamente triste da história política brasileira!